Mega Drive ou Super Nintendo: qual foi mais popular no Brasil nos anos 1990?
- FeuL
- há 1 dia
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A Era Dourada dos Videogames no Brasil: Super Nintendo vs. Mega Drive
Ser criança ou jovem nos anos 90 foi uma experiência única para qualquer fã de videogames. Quem não se lembra das revistas nas bancas estampando ícones como Mario, Link e Sonic, ou das locadoras com seus vastos catálogos de jogos? E os fliperamas, que ainda fervilhavam e reuniam multidões? Essa década marcou um salto tecnológico, com o Mega Drive e o Super Nintendo trazendo gráficos impressionantes e narrativas inovadoras. Ambos conquistaram a garotada, pavimentando o caminho para a popularização da indústria gamer.
No Brasil, essa ascensão veio acompanhada de uma intensa rivalidade: a Guerra de Consoles dos anos 90. Lembra das discussões na escola ou com aquele primo chato sobre qual videogame era o melhor? Toda essa disputa ainda evoca uma nostalgia imensa. Mas, afinal, qual console foi mais popular no Brasil: Mega Drive ou Super Nintendo? A resposta é mais complexa do que parece, pois a popularidade pode ser medida de diversas formas – especialmente em um país como o nosso. Fatores como vendas, presença cultural e o carinho dos fãs são cruciais para entender qual deles realmente impactou o mercado nacional.
Fôssemos bombardeados por essa competição de todas as formas: no boca a boca (nas locadoras, grupos de escola), em comerciais de TV e até nas bancas de jornal. Sem perceber, cada um de nós tomou uma decisão. Será que a sua foi a melhor?
Mega Drive e o Pioneirismo da TecToy
Em dezembro de 1990, a TecToy trouxe para o Brasil o Mega Drive, um videogame que já fazia sucesso global. Com seu design elegante e controle moderno, ele chegou em um momento perfeito: perto do Natal, quando os brasileiros ainda estavam encantados com o Atari e o recém-chegado Nintendinho. Não demorou para o console da SEGA entrar na lista de desejos de muitas crianças.
O início "explosivo" do Mega Drive no Brasil também se deu por conta de títulos aclamados como Altered Beast, Castle of Illusion Starring Mickey Mouse, Phantasy Star II, Alex Kidd in the Enchanted Castle e Super Monaco GP. Em 1991, veio o golpe de mestre: Sonic the Hedgehog, que virou febre.
Mesmo com o Super Nintendo já circulando no mercado cinza, a distribuição oficial da TecToy foi um diferencial enorme para o público da época. A empresa inovou ainda mais ao lançar jogos traduzidos ou adaptados, algo raríssimo naqueles tempos. Para se ter uma ideia, a Sony só adotaria essa política em 2013, e a Microsoft, em 2007. A Nintendo só começou a localizar consistentemente seus jogos para o português em 2022!
O Mega Drive saiu na frente no início dos anos 90 com adaptações icônicas como Mônica e o Castelo do Dragão e Chapolin vs. Drácula: Um Duelo Assustador. A TecToy alcançou o auge de sua representatividade, conquistando não só o público, mas também a própria SEGA.

O Contra-ataque da Nintendo com o Super Nintendo
Nos anos 90, a Nintendo já era uma velha conhecida dos brasileiros, graças ao sucesso do NES e sua enxurrada de clones. O Super Nintendo prometia um universo de novas possibilidades, mas tinha no Mega Drive seu grande rival. Ambos eram da geração 16-bit e dividiam o público-alvo. Inicialmente, chegavam ao Brasil via mercado paralelo, com preços exorbitantes e pouca disponibilidade.
Com o sucesso avassalador do Mega Drive, a Nintendo percebeu que estava perdendo uma enorme oportunidade. A reação demorou, mas em 1993 o Super Nintendo chegou oficialmente, através da Playtronic, uma joint venture entre a Estrela e a Gradiente. O objetivo era claro: enfrentar a TecToy de frente.
O plano da Playtronic era audacioso: foi a primeira vez que o Super Nintendo seria fabricado fora do Japão, um feito surpreendente para a época. O Brasil se tornou o "novo palco" para a lendária guerra de consoles entre SNES e Mega Drive, atraindo a atenção de toda a indústria gamer.
Ambas as empresas adotaram um marketing agressivo, gerando faíscas por toda parte. Comerciais de TV, anúncios em revistas, sátiras e até disputas judiciais marcaram a competição. Frases como "Genesis does what Nintendon’t" ("Genesis faz aquilo que a Nintendo não faz") eram comuns, evidenciando a rivalidade. A SEGA queria o mercado dominado pela Nintendo, enquanto a Big N queria mostrar que era tão "legal e descolada" quanto a rival.
Essa rivalidade gerou problemas e dores de cabeça, chegando a impactar a indústria global. A chegada de Mortal Kombat em ambos os consoles, por exemplo, deu origem aos órgãos de classificação etária para videogames, algo impensável até então. O Brasil, o quinto maior país do planeta e com a maior densidade demográfica da América Latina, era um mercado promissor, e a Nintendo não podia ficar para trás do investimento da SEGA via TecToy.
Mesmo com todos os esforços da Nintendo e Playtronic, a chegada oficial do Super Nintendo em 1993 foi tímida. A essa altura, o mercado já estava dominado pelo Mega Drive, com um fluxo constante de consoles e a proliferação de cartuchos paralelos e importados. Isso também afetou a localização de jogos: poucos títulos do SNES receberam edições nacionais, com destaque para Super Copa, uma adaptação de Tony Meola’s Sidekicks Soccer com publicidade da Elma Chips e Adidas.
No entanto, o Super Nintendo tinha vantagens técnicas em relação ao Mega Drive. O Mode 7 e seus gráficos inovadores, além de grandes sucessos como Super Mario World e F-Zero, destacavam o console. Jogos como Super Mario Kart, The Legend of Zelda: A Link to the Past e outras franquias reforçavam a força da Nintendo.

O Impacto do Mega Drive e Super Nintendo no Brasil
Embora o Mega Drive tenha reinado absoluto até 1993, a chegada do Super Nintendo inegavelmente abalou o mercado. Mesmo com a TecToy tendo ampla vantagem, confiança do consumidor e mais tempo de mercado, a Playtronic não demonstrou amadorismo e soube ressaltar as qualidades dos produtos Nintendo para o público brasileiro.
Enquanto a Big N era mais conservadora e menos apelativa para os adolescentes, a SEGA teve dificuldades em manter a liderança diante do Super Nintendo. A estratégia da Nintendo e Playtronic de focar em suas grandes franquias com uma proposta mais familiar, em vez de um público hardcore, surtiu efeito.
Não demorou para o Super Nintendo alcançar e até superar o Mega Drive em popularidade no Brasil. Estima-se que, em 1995, a Big N detinha 60% do mercado e dominava as vendas. Naquele ano, grande parte de seus principais jogos e franquias já estavam consolidados, enquanto o PlayStation estava prestes a chegar via importação.
Ainda que a SEGA tenha sido ultrapassada em determinado momento, ela manteve uma presença forte. As vendas da TecToy no Brasil foram consideradas um grande sucesso, com o console atingindo 3 milhões de unidades vendidas – um número impressionante, especialmente se comparado ao total de 2 milhões de unidades de Super Nintendo vendidas pela Playtronic entre 1993 e 2000. Vale ressaltar que os dados do SNES não contabilizam as milhares de unidades vendidas pelo forte mercado paralelo.

Sonic vs. Mario no Brasil: Uma Disputa Pessoal
A rivalidade dos consoles se traduziu diretamente na disputa entre seus mascotes: Mario no Super Nintendo e Sonic no Mega Drive. Mais do que uma questão de preferência, havia uma identificação profunda do público com cada um.
Sonic sempre foi o "descolado", representando uma dinâmica de velocidade e atitude que Mario não tinha. Seus tênis vermelhos, a trilha sonora eletrizante e as diversas formas de atravessar as fases eram um convite à exploração e à busca pela melhor rota.
Já Mario conquistou o Brasil e o mundo com sua jogabilidade refinada e o uso inteligente de recursos para uma experiência aprimorada. No Super Nintendo, a Big N basicamente reinventou os conceitos de jogos de plataforma que ela própria já havia criado, alcançando um patamar de "genialidade". Super Mario World não é apenas um jogo, é um referencial para o gênero.
Enquanto a SEGA buscava o destaque pelo estilo "cool", a Nintendo focava na diversão pura. Avanços tecnológicos eram evidentes, mas o principal para a empresa sempre foi a experiência de jogo, refletindo sua Estratégia do Oceano Azul de hoje em dia.
Mesmo com jogos como F-Zero, Donkey Kong Country e Star Fox trazendo visuais incríveis, o ponto forte da Nintendo era que seus títulos divertiam toda a família. A empresa atraía mais adeptos e criava um ambiente onde todos podiam aproveitar.
A SEGA, por sua vez, queria atrair os "gamers raiz", aqueles que buscavam desafios. Não que o SNES não tivesse jogos difíceis, mas a abordagem da SEGA era diferente. Víamos títulos que atraíam um público mais jovem-adulto, como a "animosidade" de Altered Beast, a fantasia medieval de Golden Axe, a velocidade de Sonic e personagens "maneiro" como Kid Chameleon e Ristar.
Essa disputa também se estendia aos jogos third-party. O Super Nintendo tinha Street Fighter II, International Superstar Soccer e Chrono Trigger. No Mega Drive, destacavam-se Mortal Kombat, Ayrton Senna’s Super Monaco GP II e adaptações diretas dos fliperamas da Capcom e SNK, como Streets of Rage e Fatal Fury.
A TecToy fez um esforço notável para trazer a maioria dos jogos do Mega Drive oficialmente para o Brasil, com preços mais acessíveis para o público (embora ainda caros para os padrões da época). Já os jogos de Super Nintendo eram menos acessíveis, chegando principalmente via mercado paralelo, o que significava preços mais elevados e baixa disponibilidade.
Ainda assim, é inegável que esses jogos ditaram a cultura de uma geração. Mario e Sonic não eram apenas mascotes; eram uma escolha de vida para os fãs. Com dinheiro para comprar apenas um videogame, para qual lado seguir: para o console do Mario ou do Sonic?

A Guerra Civil dos Consoles e o Sonho dos 16-bit
Escolher entre Super Nintendo e Mega Drive não era fácil. Diversos fatores influenciavam a decisão, indo além do gosto pessoal. Um deles era a cultura das revistas de videogame. Nos anos 90 e 2000, com a internet engatinhando, as bancas de jornal eram a principal fonte de informação. Era impossível não encontrar publicações com Sonic, Mario, Mortal Kombat ou Street Fighter estampados na capa, ao lado de títulos exagerados e "clickbaits" primitivos.
Revistas como SuperGamePower, Ação Games e Gamers traziam análises, dicas e "detonados", motivando os fãs a buscarem certos jogos. Se um game estava na capa, virava tendência. E o "tráfico" de revistas nas escolas era intenso, com todas circulando entre a galera.
Nas escolas, as rodas de amigos nos corredores eram a maior campanha de marketing. Grupos reunidos falavam das novidades do Mega Drive e Super Nintendo, do que estavam jogando, do que leram nas revistas e, claro, combinavam as sessões de jogatina no fim de semana. Isso funcionava como um poderoso motor de influência. Se seus amigos só falavam de Super Nintendo, você ousaria comprar um Mega Drive? Seria um verdadeiro sacrilégio.
Todo esse debate gerava uma verdadeira guerra civil entre os fãs. Quem tinha Mega Drive desdenhava de quem tinha Super Nintendo e vice-versa. A briga ia além do "meu videogame é melhor que o seu", chegando a frases como "comprou o SNES? Só tem jogo de criança" ou "para que comprou um Mega Drive? Não tem Mario e Zelda nele", resultando em discussões e amizades desfeitas.
O sonho de consumo dos 16-bit era caro no Brasil. O Mega Drive, lançado em 1990, custava Cr$ 230.000 – o equivalente a 10 meses de salário mínimo. Com o Plano Real em 1994, o preço caiu para R$ 289,99, cerca de 4 meses de salário. Ajustando pela inflação, hoje ele custaria R$ 3.812,27.
O Super Nintendo, que chegou em agosto de 1993, custava cerca de Cr$ 25.000, o equivalente a 4 meses e meio de trabalho. Em 1994, passou a R$ 319,00, quase 5 meses de salário mínimo. Hoje, esse valor seria R$ 4.193,64, quase o preço de um Nintendo Switch 2.
Os cartuchos eram um sonho ainda maior. Um jogo de SNES podia custar até R$ 129 (mais de um salário mínimo da época), o que hoje seria mais de R$ 1.518. As fitas de Mega Drive eram mais baratas, entre R$ 44,90 e R$ 84,90, mas ainda assim valores assustadores quando corrigidos pela inflação, chegando a R$ 618,18.
Essa realidade impulsionou a cultura das locadoras. Muitas ofereciam não só filmes, mas também jogos, ou eram especializadas apenas neles. Isso democratizou o acesso, com aluguéis que variavam de R$ 2 a R$ 5 por um fim de semana inteiro. Muitos pais investiam apenas no console, contando com as locadoras como principal fonte de jogos.
Além disso, a disponibilidade era um problema. TecToy e Playtronic focavam nos jogos first-party; os demais dependiam muito de importação e do mercado paralelo, sem contar as fitas piratas. A TecToy afirma ter lançado quase 700 jogos oficiais do Mega Drive no Brasil. A Playtronic/Gradiente nunca divulgou esse dado para o Super Nintendo, mas trouxe outros consoles como NES, Game Boy e Nintendo 64, indicando um retorno positivo.

Afinal, Qual Videogame Foi Mais Popular no Brasil?
Voltamos à pergunta inicial: Super Nintendo ou Mega Drive? A resposta exige algumas ressalvas, considerando o tempo de vida de cada console no Brasil e o cenário econômico.
O Mega Drive "queimou a largada", chegando em 1990 e abrindo o caminho. No entanto, em 1995, já era considerado "idoso" e perdeu espaço para PlayStation e Nintendo 64. As revistas mal o mencionavam, o que impactou sua popularidade.
O Super Nintendo, por sua vez, sobreviveu por mais tempo. Mesmo chegando em 1993, sua relevância se estendeu até 2000, mantendo-se presente nas revistas e com forte atuação da Playtronic e Gradiente. Muitos fãs do SNES o conheceram nessa fase mais tardia.
Em termos de vendas oficiais, a TecToy declarou que o Mega Drive vendeu 3 milhões de unidades no Brasil nos anos 90, saindo na frente devido ao seu lançamento antecipado. O Super Nintendo ficou logo atrás, com 2 milhões de unidades vendidas, segundo a Playtronic. A questão do SNES é que, apesar de sua longevidade, ele disputou espaço com o PlayStation e o próprio Nintendo 64. Além disso, as milhares de unidades vendidas pelo mercado paralelo não são contabilizadas, o que poderia alterar o balanço final.
Embora o Mega Drive tenha perdido força com o tempo, a TecToy manteve-se firme, lançando diversas versões do console e centenas de jogos de sua biblioteca oficialmente – algo louvável para a época.
Se em vendas o Mega Drive levou a melhor, a glória de causar um grande impacto e trazer inovações com seus jogos acaba ficando com o SNES. Os títulos da SEGA foram marcantes, mas a Nintendo impulsionou grandes franquias, estreou novos gêneros e obteve enorme atenção no Brasil. Não era raro ver seus personagens e jogos estampando capas de revistas ou tendo maior presença nas locadoras.
O aspecto da memória afetiva é subjetivo, e ambos os consoles são lembrados com enorme carinho. Independentemente da qualidade dos títulos, é impossível dizer que um tinha mais amor dos fãs do que o outro; ambos deixaram marcas profundas em toda uma geração.
Outro ponto é que, em diferentes momentos dos anos 90, um deles teve um pico maior de popularidade. Se o Mega Drive reinou absoluto por alguns anos, em outros o Super Nintendo demonstrava mais força, seja em vendas, presença no mercado ou em lançamentos mais impactantes. Era comum ver flutuações, com um console dominando a preferência do seu grupo de amigos em determinado período.
Em termos de vendas, o Mega Drive teve uma popularidade maior no Brasil. No entanto, em outros quesitos, ele e o Super Nintendo travaram uma guerra equilibrada, com altos e baixos. O impacto de ambos é colossal e reverberou em toda a indústria dos videogames até hoje.

Uma Guerra Entre Colossos
A TecToy e a Playtronic acertaram em cheio ao trazer o Mega Drive e o Super Nintendo oficialmente para o Brasil. Ambos os consoles viveram uma trajetória épica em nosso país, conquistaram o público, guiaram milhões de fãs e ajudaram a moldar a comunidade gamer que existe até hoje.
A rivalidade entre as duas plataformas foi intensa, mas impulsionou a criatividade – tanto nos jogos quanto no mercado brasileiro – para entregar experiências marcantes e atemporais. Se você teve um Mega Drive ou um Super Nintendo, ou acompanhou essa disputa, sabe o legado que ela deixou e a felicidade que trouxe para milhões de pessoas. E o que construíram permanece vivo, seja através de fãs e colecionadores, ou nos serviços de assinatura das grandes fabricantes, que resgatam os jogos dessa geração como grandes destaques.

De qual lado você estava na década de 1990? Super Nintendo ou Mega Drive?
fonte: canaltech
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